Projeto escolar gera polêmica em Maracajá e é explicado por professora
Um projeto da Escola Municipal 12 de Maio ganhou repercussão nesta semana em Maracajá, e o caso pode parar na justiça, após uma professora ser acusada nas redes sociais, de realizar bruxaria durante as aulas. A técnica pedagógica, Bruna dos Santos, ainda bastante abalada, explica como tudo aconteceu e os ataques que vem recebendo de um pequeno grupo de mulheres.
Tudo começou após ser colocado em prática um projeto chamado “Sagrado Feminino”, aproveitando o mês alusivo a mulher. Conforme a professora as meninas do 6º ao 9º receberiam orientações sobre amor próprio e ciclos menstruais. “A ideia surgiu no ano passado, pois muitas meninas iniciavam o período menstrual e algumas acabavam passando por problemas de aceitação, higiene pessoal e principalmente falta de informações”, revela a professora.
Segundo ela, muitas adolescente têm vergonha de falar com os pais sobre essas intimidades, e acabam tendo na professora a figura confiável para estes tipos de assuntos, isso é muito comum. “Iniciamos o projeto com uma palestra com a psicóloga e a assistente social do Cras. Fizemos um ebook, no qual vários professores avaliaram o conteúdo, antes de ser passado para as alunas, confeccionamos um caderno para ser usado como agenda para anotações do ciclo menstrual de cada uma, e doamos um pacote de absorventes e um calendário. Muitos professores se empenharam em confeccionar esse kit e tudo foi feito com muito carinho”, conta Bruna.
Ela explica, que como é um assunto novo e muito íntimo para as adolescentes, foi criado um ambiente especial e diferente na biblioteca da escola. “Decoramos a sala com tatames, flores que a direção tinha recebido pela passagem do Dia da Mulher, colocamos uma vela aromatizante, e uma mesa com pedras coloridas. Pedimos que as meninas tirassem os calçados para que ficassem o mais confortável possível e como não tínhamos recursos para comprar flores para todas as alunas da escola, decidimos pingar uma gota de óleo com esencia de lírio. Tudo o que foi feito, aprendemos em cursos pedagógicos”, explica a professora.
Bruna conta como realizou as dinâmicas durante a aula. “A primeira dinâmica, trabalhamos o emocional, e isso está na base do projeto, no qual identificamos um alto índice de ansiedade nos alunos. Então usamos técnicas de respiração, pedindo que elas respirassem fundo, depois respirações curtas, mas como essa é uma idade de transição, muitas não conseguem se concentrar e começam a rir quando olham uma para outra. Para resolver isso usamos vendas, para evitar que elas perdessem a concentração. Durante essa técnica, eu ia falando da importância dos pais, para que ela pensassem que de um lado estaria o pai e do outro a mãe, que eles precisavam ser colocados no coração”, revela.
Após essa dinâmica, Bruna disse que falou como deve ser usado o absorvente, falou sobre higiene pessoal, sobre autoestima, quando utilizou uma música destacando as belezas e o amor próprio da mulher. “Eu pedi para que elas escrevessem no diário coisas positivas de cada uma, e a música serviria para elas pudessem se inspirar”, afirma.
Ao final da dinâmica com as meninas, a professora realizou uma meditação guiada. “Durante a meditação eu falei sobre a importância da inclusão dos pais na vida delas. Sobre a autoestima delas e o quanto elas deveriam se amar, e amar os pais”, disse a professora.
Conforme Bruna todo o problema surgiu devido sua vida pessoal, por ser terapeuta holística fora da escola. “Algumas pessoas acharam que eu estaria trabalhando questões religiosas, no qual elas não concordavam. Em grupos de whats uma pessoa chegou a me acusar de estar praticando bruxaria dentro da escola, que nos kits, que os professores fizeram com o maior carinho, estariam enfeitiçados. Um tambor que foi usado para demonstrar a batida do coração durante a meditação, as pedras e até o fato de terem que tirar os calçados foi motivo de acusações, envolvendo questões religiosas”, revela.
Bruna afirma que ficou muito abalada com as acusações. “Não vou negar. Fiquei com o coração dilacerado, pois quem é professor sabe que muitas coisas positivas que são feitas na escola, muitas vezes por falta de informação, acaba gerando fatos negativos. Os comentários maldosos se alastraram rapidamente. Fiquei três dias chorando. Pois não falei em momento algum sobre religião, deixei as meninas bem tranquilas e que aquelas que não se sentissem a vontade para falar sobre o assunto poderiam sair sem problemas”, explica.
Segundo Bruna, em um segundo momento, as mães seriam convidadas a participarem da dinâmica também. “O que mais me deixa tranquila, é que a grande maioria dos alunos, e pais, vem me mandando mensagens positivas, apoiando o projeto e pedindo que continue”, conclui.
Como não houve retratação pública nas redes sociais, a pedido de Bruna, das pessoas que acusaram ela de praticar bruxaria na escola, a professora decidiu registrar boletim de ocorrência. Conforme Bruna o caso está nas mãos de uma advogada, que estuda a possibilidade de abrir processos por calúnia e difamação.
Diretor de Educação e direção da escola decidem continuar com projetos
Conforme a diretora da Escola 12 de Maio, Aline Rosso, este é um projeto muito bonito e tem uma grande importância para as meninas e principalmente para as adolescentes que iniciam o ciclo menstrual.
“Muitas meninas tem vergonha de tirar duvidas sobre o ciclo menstrual, como acontece, como deve ser feita a higiene, como se preparar e como deve ser usado o absorvente. Muitas pessoas não sabem o acontece com algumas meninas. Algumas não estão preparadas e acabam sofrendo nessa fase da vida feminina”, afirma Aline.
Conforme ela, os benefícios do projeto “Sagrado Feminino”, são muitos e por isso vai continuar. “Para não haver mais problemas, vamos pedir uma autorização dos pais, para que as meninas possam participar do projeto. Aqueles que acharem que a filha não deva participar não terá problema algum”, explica a diretora.
Segundo o diretor de Educação de Maracajá, Daniel de Souza, o Chicão, Este ano foi criado um novo plano de ação, e este projeto foi discutido para ser implantado na escola, visando orientar as meninas sobre aceitação e ciclo menstrual.
“Após toda repercussão, fizemos uma reunião e decidimos que o projeto irá continuar, devido a importância de esclarecimento e quantidade de meninas da escola, que iniciam o ciclo menstrual. Vamos respeitar as questões religiosas, e por isso, nas próximas dinâmicas, os pais receberão todo cronograma do projeto e como será ministrado. Aqueles que acharem importante a participação dos filhos, terão que autorizar”, explica Chicão.