Benzeduras de dona Salvatina da Silva Flor: uma mulher que faz do nosso patrimônio cultural
O texto dessa semana são as memórias das benzeduras de dona Salvatina Terezinha da Silva Flor, que tive como fonte a entrevista que realizei no dia 29 de janeiro do ano de 2004. Naquele tempo a dona Salvatina estava lúcida e forte com os seus 79 anos de idade. Ela residia na Rua José Marques, centro de Maracajá, próximo ao antigo secador do Boza, hoje Turamix. Dona Salvatina descansa no Senhor e foi sepultada na capela da família no cemitério municipal de Maracajá.
Dona Salvatina é uma cidadã muito conhecida em Maracajá pelo seu legado de mulher trabalhadora, simples, humilde, honesta, respeitosa e pelo seu dom de benzer crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos. Além de benzer pessoas, também tinha a experiência e o dom de benzer animais, as plantações, residências e outros.
A dona Salvatina faz parte da memória coletiva e é considerada como uma mulher que faz parte do patrimônio histórico cultural da cidade de Maracajá e demais municípios da Região da AMESC. As suas benzeduras e rezas estão vivas nas lembranças das pessoas que foram curadas, que receberam uma graça! As preces, rezas e benzeduras são conhecimentos que fazem parte da cultural popular e é patrimônio imaterial. É um conhecimento que é passado de geração a geração, ou seja, saberes transmitidos nas famílias oralmente.
Na entrevista com a dona Salvatina, percebi que as orações, benzeduras, preces e rezas que a mesma reproduzia no seu dia-a-dia, haviam aprendido com a sua mãe e com o seu pai. “Minha mãe e meu pai faziam as orações, as rezas todos os dias. Mas a benzedura mesmo eu aprendi com o meu pai que não sabia nem ler e nem escrever. Ele aprendeu com a sua mãezinha. Eu também aprendi as benzeduras com o meu pai somente escutando ele, porque eu não sabia ler”. (Entrevista concedida a Lúcio Vânio Moraes no dia 29/01/2004).
A dona Salvatina desenvolvia a sua experiência religiosa benzendo todos os tipos de pessoas em suas diversidades políticas, econômicas, culturais, étnicas e religiosas. Em entrevista, a dona Salvatina narrou que “eu era procurada para benzer todos os tipos de doenças e problemas. Era pobres e ricos. Vinha gente branca, preta de todo tipo. Gente com estudo e sem estudo também. Vinha católicos, espíritas, o Zé Sangão até vinha aqui também para eu benzer. Padres e gente de outra religião, como evangélicos.” (Entrevista concedida a Lúcio Vânio Moraes no dia 29/01/2004).
Nas lembranças de dona Salvatina, as benzeduras que mais pediam era contra a zipra, cobreiro e mau olhado das crianças. Conforme dona Salvatina, “a benzedura contra a zipra era assim: Pedro Paulo foi a Roma, encontrou com Jesus Cristo, Jesus Cristo perguntou: Que há por lá, Pedro Paulo? Senhor, muita zipra, muita zipela, Muita gente morre dela! Volta lá Pedro Paulo, Com que se cura a zipra Senhor? Óleo de oliveira, a lã da carneira virgem, Isso mesmo se curaria, Em nome de Deus e da Virgem Maria. Amém!”. (Entrevista concedida a Lúcio Vânio Moraes no dia 29/01/2004).
Palavras-chave: Patrimônio Imaterial. Conhecimento Popular. Memórias.
Foto: Dona Salvatina da Silva Flor (79 anos).
Fonte: Arquivo particular do autor.