Sabor criciumense: Registro documental e histórico sobre o patrimônio cultural imaterial de Criciúma

Fundação Cultural documenta histórias de pioneiros do x-salada e celebra o legado gastronômico de gerações
O x-salada, lanche preferido de gerações de criciumenses, está sendo oficialmente documentado. A pesquisa reúne entrevistas com os proprietários de lanchonetes mais antigos em atividade na cidade, como forma de preservar a memória de quem ajudou a construir essa tradição gastronômica. Os registros fazem parte de um processo de valorização do x-salada, reconhecido como patrimônio pela Lei nº 8503, de 7 de dezembro de 2023.
O prefeito de Criciúma, Vagner Espindola, reconheceu a relevância do lanche para a memória do criciumense e propôs uma posição de destaque nas comemorações do centenário de emancipação.
“A história da nossa cidade, da nossa gente, é fascinante. Cada mão construiu com trabalho, dedicação, esperança e fé tudo que vivemos nos dias de hoje. Nesse sentido, as mãos dos “chapeiros” criaram o lanche preferido dos criciumenses, o x-salada. O legado deles merece destaque no ano do centenário”, afirmou.
A presidente da Fundação Cultura de Criciúma, Cristiane Uliana Zappelini, ressalta a relevância da documentação histórica como forma de proteger tal legado.
“Nós estamos reunindo as entrevistas, como forma de documentos orais, para tentar reconstituir a história do x-salada em Criciúma. Conhecendo os primeiros estabelecimentos, as pessoas que foram pioneiras, as receitas, o modo de fazer, tudo isso para a gente é importante para compor a história desse prato gastronômico aqui na cidade”, confirmou.
Histórias e memórias preservadas
“Ainda lembro do cheiro do tempero, que tomava conta do ambiente”, relembra emocionada Daiane Bitencourt, filha do pioneiro “chapeiro” em Criciúma, fundador do Barão Lanches. Em seu relato para os historiadores da Fundação Cultural, Daiane contou que o pai, José Juarez Bitencourt, chegou em Criciúma aos 16 anos e sempre trouxe consigo a vontade de empreender e ter a sua própria lancheria. “Barão”, como era conhecido, havia trabalhado na Rede Tritão, em Florianópolis, e iniciou em Criciúma com uma filial da lanchonete.
“Eu cresci dentro da lanchonete, tenho muitas lembranças, muitas memórias dele preparando os ingredientes para produzir o x-salada. A lembrança mais antiga que eu tenho é de eu esperando o pai temperar a carne moída. Nossa! A carne moída dele era tão gostosa, o molho, o tempero, que eu comia a carne moída crua, acredita?”, contou saudosamente.
Em meados dos anos 80, surgiu o Barão Lanches, um marco para a tradição gastronômica de Criciúma. Daiane agradeceu a gestão municipal pelo respeito e a dedicação em resgatar o legado do pai.
“Esse reconhecimento é perceber que a gente deu certo, que tudo que o pai fez, tudo que ele construiu, deu certo, sabe?! E esse legado é muito lindo, porque acho que pelo Barão já passaram umas três gerações de clientes. Já tivemos relatos de filho, pai e avô guardando a tradição de comer os nossos lanches. E tudo isso é muito lindo”, concluiu.
Leandro Oliveira fez questão de também dar o seu relato. Segundo ele, o tradicional lanche salvou a sua vida, pois a partir dos 12 anos começou a trabalhar em uma lanchonete e não parou mais. Frequentou e aprendeu em todos os setores, hoje é proprietário do Daniel Lanches.
“A primeira vez que eu comi xis eu era a criança mais feliz do mundo. Eu praticamente morei dentro do estabelecimento, a gente passava por muita dificuldade, mas sempre tinha o que comer. Hoje eu tenho o prazer de chegar lá e atender bem os nossos clientes, ver eles ficarem felizes com o nosso lanche”, relatou Leandro
Perguntado sobre o que faz do lanche ser tão desejado, Leandro de pronto respondeu, ressaltando as principais características.
“O que fez de Criciúma ser a Terra do X Salada é como ele é feito. Aberto, com bastante milho e maionese caseira. Nosso estabelecimento fica próximo a um hotel, hóspedes de todas as regiões do Brasil provam e quando comem ficam maravilhados”, afirmou.
A oficialização do X-Salada Criciumense como patrimônio cultural imaterial visa fortalecer, promover e incentivar o comércio local, que há gerações preserva essa receita autêntica. Este lanche representa um símbolo da identidade criciumense, refletindo a interação entre a cultura local e a história da cidade.