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Terapeuta do projeto “Somos Madrastas” afirma que ainda existem preconceitos

Mariana afirma: Quando há amor e respeito os filhos ganham.

O dias das mães está chegando, e é bem comum se perceber uma movimentação intensa para homenagear as mães, com presentes e declarações afetuosas. Mas, por outro lado, uma personagem que está inserida nas famílias e que também desenvolve responsabilidades materna, muitas vezes, acaba sendo ignorada e esquecida nessa data. Estamos falando das madrastas, que além de terem as mesmas responsabilidades de uma mãe, carregam o peso do preconceito da sociedade.

A educadora parental e terapeuta Mariana Camardelli é enteada, madrasta do Vicente e do Augusto e mãe da Flora e do Martin. Exatamente nessa ordem. Ela é empreendedora do projeto “Somos Madrastas”, que lida com os desafios de ser madrasta, um espaço de troca, acolhimento e discussões, sobre como transformar essa relação, tão classicamente tida como ruim, em algo positivo, em laços de amor e harmonia.

Segundo Mariana, o “Somos Madrastas” surgiu da sua solidão como madrasta. Dos estereótipos e preconceitos que a sociedade coloca nesse papel e que podem fazer com que a mulher que casa com alguém que já tem filhos se sinta á margem. “A gente não é mãe, mas também não é uma bruxa. Qual o nosso lugar então?” questiona Mari.
Quando Mariana conheceu os seus enteados há seis anos, ela conta que muitas de suas memórias de infância vieram a tona. “Foi a partir dessa experiência que comecei refletir sobre como ser uma madrasta que olhasse sempre com carinho e empatia para as crianças. A minha maternidade também trouxe mais uma camada: agora meus enteados são os irmãos da minha filha, e a minha casa tem três crianças. É isso que procuro lembrar diariamente quando produzo conteúdos, e os encontros do Somos Madrastas: olhar para o outro, sempre com respeito ao seu espaço.

Mariana reforça que há várias crenças construídas em cima do papel da madrasta, que se sustentam por narrativas antigas de contos infantis, e também da mídia, pelas novelas e seriados. “A disputa, a concorrência, a comparação; a madrasta quer roubar o meu lugar de mãe, ela quer ser melhor do que eu. É preciso mudar esse paradigma, porque ele oprime e marginaliza as madrastas. Pessoas podem ser más, e isso não vem por definição de papel”, destaca ela.

Para ela, o lugar da madrasta é dentro do núcleo familiar, junto do seu cônjuge, respeitando todos os limites do seu papel, mas não deixando de participar e ser ativa na própria casa.

“Se eu moro com o meu marido e os meus enteados, e a minha filha, preciso sentir minha autonomia para educar essas crianças aqui dentro de forma igualitária e saudável emocionalmente. As pessoas adoram dizer que madrasta não pode se meter, mas, se tratando da minha casa, como poderia ser intromissão?”, indaga ela.

Segundo Mariana, ao mesmo tempo a madrasta deve honrar e respeitar os pais da criança, seus vínculos primários, que lhe deram a vida, com cada um no seu melhor lugar, cumprindo seu papel, todos ganham principalmente os filhos.

Para enteados e madrastas viverem em harmonia, a base de tudo é a comunicação. O respeito que nasce do diálogo fortalece as relações. É necessário lembrar disso sempre que se entrar em relações com pessoas diferentes. “Existem diversas formas de aprender mais sobre isso, da comunicação não violenta a ferramentas como a disciplina positiva, que nos ajudam a ter mais abertura e conversa com as crianças, independente da barriga em que nasceram”, conclui Mariana.

 

“Mulheres que aceitam ser madrastas, precisam ser acolhidas”

Conforme Mariana, as crianças merecem ambientes harmônicos de diálogo e respeito. “E isso é responsabilidade dos adultos. É preciso acolher as madrastas em todos os ambientes, nas rodas de conversa de encontros sociais, na saída da escolinha. O manual prático e muito injusto da sociedade costuma dizer o seguinte em relação às madrastas”:

Não pode se meter, mas tem que estar à disposição.
Não pode falar nada, mas tem que ajudar a cuidar quando é preciso.
Não tem direito de tirar foto com a criança, mas também não pode excluir a criança da foto.
Não pode comentar sobre a saúde da criança, mas tem que levar no médico caso os pais tenham compromisso. Mas só caso os pais tenham compromisso. Se os pais puderem levar, é um absurdo levar ou querer ir junto.
Não pode interferir nas escolhas alimentares, mas tem que ir no supermercado, comprar comida, cozinhar. Ah, tem que lembrar do que a criança gosta e fazer o prato preferido. Mas não pode orientar a criança a comer menos chocolate ou sorvete. Aí de prestativa e bacana vira automaticamente chata metida.
Não pode trocar a fralda, isso é coisa de pai e mãe, mas pode cuidar por algumas horas quando os genitores se ausentam. Aí nesse caso pode trocar a fralda. Eu acho.
Não pode aparecer no vídeo, dentro da própria casa, quando algum genitor telefona. Tem que fingir que não existe, se esconder, sei lá. Não pode falar, também. A lembrança da existência incomoda.
Não pode, sob nenhuma hipótese, opinar.
Não pode participar dos combinados sobre os dias em casa, caronas, etc. Mas deve manter a casa sempre pronta para as crianças chegarem. Sempre.

“Querida sociedade, suas crenças coletivas, julgamentos preconceituosos e orientações invisíveis sobre o nosso papel machucam. Doem. Nos afastam de nós mesmas, das crianças e do que mais importa: o amor. Está na hora de repensar, e ajudar essa mulher, que também se doa a educação e aos cuidados com uma criança, a vivenciar esse pertencimento familiar. Quanto mais gente lutando para que o padrão de família imposto pelo patriarcado pare de oprimir as pessoas, mais liberdade, felicidade e amor teremos espalhado por aí”, finaliza a educadora.

Cooperação: Luciana Fuoco Revista Vida Simples

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