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Hora de refletir sobre o “Dia Mundial da Consciência Negra”

Não conseguimos respirar. Falta ar há muito tempo. Há séculos. Essa dor não é nova. É cotidiana principalmente no Brasil, que tem uma das maiores populações negras do mundo e reserva a ela a pior posição em sua estrutura deformada pela desigualdade.

Que bom que podemos falar, debater, entrar nessa discussão do racismo, que virou um dos grandes assuntos no Brasil e nos Estados Unidos, que todo mundo sabe que existe, mas ninguém acha que é racista. O racismo é extremamente violento e está no nosso dia a dia, no nosso cotidiano. Este é um bom momento para aprender mais sobre racismo e sobre as desigualdades que levaram aos protestos que estamos vendo.

O racismo estrutural está em todos os lugares. No ir e vir, no trabalho, na religião, na propaganda, na literatura, no mercado de trabalho.

Você já parou pra pensar em quantos termos com origem racista usa no dia a dia, sem saber? Alguns já estão enraizados no nosso vocabulário, mas não é por isso que devemos prosseguir, não é mesmo?

Ao longo da história, algumas expressões e palavras foram criadas em cima de situações vividas por negros, principalmente na época escravocrata, mas que semanticamente estão ligados a um tempo de dor e subordinação do povo negro. E são utilizadas até hoje.

Para pensarmos em uma sociedade mais igualitária, sem racismo e preconceito, precisamos urgentemente desconstruir esse discurso e parar de utilizar expressões que aparentemente não parecem ofensivas, mas são. E muito.

Por essa razão, vou listar algumas dessas expressões, com seus significados e impactos. Quem sabe conseguimos ter uma vivência mais tranquila, sem ofensas ou afetar quem quer que seja?  Vale a reflexão:

“Mulata”

A palavra se refere à mula, um animal originado do cruzamento de burro com égua. Na época da escravidão, muitas escravas eram abusadas pelos patrões e acabavam engravidando. Os filhos eram chamados de mulatos por serem o resultado do cruzamento de um homem branco com uma mulher negra. Hoje, as pessoas utilizam esse termo para se referir às pessoas pardas, mas a palavra deve ser imediatamente retirada do vocabulário.

“Denegrir”

Segundo o dicionário Aurélio, a palavra denegrir é definida por “tornar negro, escurecer”. Quem sabe você substitui o termo por “difamar”? Até por que sempre que alguém utiliza essa palavra é para dizer que está sendo difamado ou injustiçado por outra pessoa.

“Lista negra”

Da mesma forma que “denegrir”. Usar “negro” para descrever algo que é ruim tem um peso muito negativo, tornando-o pejorativo. Essa expressão é sempre utilizada de forma negativa. Uma pessoa estar em uma “lista negra” significa que ela está sendo perseguida ou que não poderá mais adentrar em certos ambientes.

“Mercado negro”

Outro caso parecido. O termo refere-se ao mercado paralelo, ilegal. Não negro. Ponto.

“Não sou tuas negas”

Associa a mulher negra como objeto, como um ser que deve servir outro, ou que “faz tudo”. Na época da escravidão, eram recorrentes estupros, assédios e agressões contra as mulheres negras.  Já com as mulheres brancas o tratamento não era o mesmo. A frase se remete a essas mulheres, escravas, que no imaginário popular tudo podia se fazer. Nem existe substituição para essa expressão. Talvez um “se vira” já dê conta do recado.

“A dar com pau”

Expressão com origem nos navios negreiros, que significa quantidade. Ne época, alguns negros faziam greve de fome ao serem capturados (sim, eles preferiam a morte à escravidão) e, justamente para não morrerem, uma colher de pau era enfiada em suas bocas com comida.

“Meia-tigela”

Na época da monarquia portuguesa, quem não tinha um “trabalho digno” para a época, como os criados, ganhava só meia tigela de comida. O mesmo acontecia na época da escravidão.

“Criado-mudo”

O nome do móvel que geralmente é colocado na cabeceira da cama vem de um dos papéis desempenhados pela escravos dentro da casa dos senhores brancos: o de segurar as coisas para seus “donos”. Como o empregado não poderia fazer barulho para atrapalhar os moradores, ele era considerado mudo. Logo essa expressão se refere a esses criados.

“Amanhã é dia de branco”

E para encerrar, essa expressão que é a mais esdrúxula de todas. Dia de branco é utilizado para se referir a dia de trabalho, responsabilidade e compromissos. Como se só gente branca trabalhasse duro. Isso porque antigamente o trabalho dos escravos não era considerado trabalho e essa ideia perpetua até hoje.

De Greice dos Santos

Storytelling e Social Media

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