Carne de cavalo faz mal à saúde? Você comeria?
Nesta semana uma operação da Polícia Civil em Morro da Fumaça apreendeu mais de meia tonelada de carne supostamente de cavalo ou mula em um CTG, no bairro Frasson. A ação, que resultou na prisão de cinco pessoas em flagrante, traz à tona uma dúvida: afinal, por que não comemos carne de cavalo?
Alguns acham que comer carne de cavalo é considerado crime e faz mal à saúde. Pois saiba que essas suposições estão distantes da realidade. Não existe nenhum impedimento legal para o consumo desse produto, inclusive há abatedouros que trabalham apenas com o manejo de carne de cavalo no Brasil.
“Consumir carne de cavalo não é crime. O que é proibido é vender a carne do animal como se fosse de bovino. Isso é um crime contra o consumidor. O cliente está sendo ludibriado”, explica o delegado Ulisses Gabriel, coordenador da Operação Hefesto, que investiga uma quadrilha que vendia, de forma clandestina, carnes de cavalo e de mula como se fossem de gado, em Morro da Fumaça.
::: Questão cultural :::
Os cavalos são considerados animais próximos ao ser humano. Os ocidentais não costumam se alimentar de animais considerados de estimação como cães, gatos e cavalos. Os equinos não vivem dentro das casas de alguns tutores pelo seu tamanho, mas em todos os demais sentidos são vistos como amigos próximos, de estimação. Além dessa questão cultural existe ainda o fato de que o Brasil é um país majoritariamente católico e para essa religião foi proibido o consumo da carne de cavalo durante muito tempo. Por volta do ano 700 d.C. comer carne de cavalo passou a ser considerado pecado entre os católicos porque era um hábito muito arraigado entre os pagãos. Mesmo a Igreja tendo liberado o consumo dessa carne ainda existe resistência entre muitos cristãos.
::: Faz mal à saúde? :::
O médico veterinário da Cidasc de Tubarão, Camilo Coelho Xavier, explica que consumir carne de cavalo não faz mal à saúde. A carne de equino é mais magra do que a bovina e ainda tem mais vitaminas e nutrientes, com quase o dobro de ferro de outras carnes.
Ele conta que no Brasil, mais especificamente no Rio Grande do Sul, há um frigorífico que abate cavalos para exportação. “Envolve uma questão cultural e a falta de mercado para esse tipo de produto. Aqui em Santa Catarina não temos abatedouros de equinos”, comenta.
Apesar de não ter mercado para esse tipo de carne no Brasil, há muitos casos de crime contra o consumidor em abates clandestinos. Por ser mais barata, geralmente a carne de equino é moída e misturada com a de bovino para venda para lanchonetes e restaurantes. Segundo o médico veterinário, a falta de inspeção sanitária pode causar problemas à saúde. “Eles compram animal ‘refugo’, que não serve mais para tração, e fazem o abate em locais clandestinos. O problema é que esse cavalo pode ter doenças como cistos, parasitas e anabolizantes. Eles são abatidos com utensílios sem assepsia, em locais sem inspeção sanitária, o que pode oferecer riscos à saúde do consumidor”, alerta.
Em Tubarão, no mês de fevereiro, um açougue foi interditado por vender carne de cavalo misturada com carne bovina. A Operação Horse, deflagrada pela Polícia Civil, resultou na prisão preventiva do proprietário do açougue, no bairro Revoredo. Os donos respondem por receptação qualificada e crimes contra as relações de consumo, podendo ser condenados a uma pena de até 18 anos de reclusão.
::: Em muitos países uma iguaria :::
O consumo da carne de cavalo é comum em alguns países como França, Bélgica, Itália e Japão. Os franceses iniciaram o hábito de comer carne de cavalo no século 19, quando os equinos que morriam no campo de batalha acabavam se tornando o jantar dos soldados famintos. A necessidade acabou se tornando um hábito. Na Bélgica e na Itália o consumo dessa carne também é comum, inclusive é possível encontrar em vários restaurantes italianos opções como carpaccio, salame, carne seca e salsicha.
No Japão a carne de cavalo é a segunda mais consumida, perde apenas para os peixes na preferência de japoneses, em especial na região sul do país. Nas cidades de Kumamoto e Fukuoka os restaurantes contam com opções de sushis e sashimis de carne de cavalo.
Nos Estados Unidos, em 1946, foi autorizado o consumo de carne de cavalo pelo então presidente Harry Truman como medida para enfrentar o desabastecimento de carne de gado causado pela Segunda Guerra Mundial. Contudo, a população se recusou a levar para a mesa o companheiro de tantas batalhas. Na década de 1970 o presidente Richard Nixon voltou a acenar para essa possibilidade – e mais uma vez os americanos disseram não.
::: Próximos passos da Operação Hefesto, em Morro da Fumaça :::
A investigação sobre a quadrilha que vendia, de forma clandestina, carne de equino como se fosse bovina iniciou em maio. De acordo com o delegado Ulisses Gabriel, a próxima etapa da investigação é saber quem vendia o produto ilegal e quais eram os compradores. Cinco pessoas foram presas. São investigados crimes contra o consumidor por armazenar produtos sem procedência, organização criminosa, receptação, furto de animais, posse e porte ilegal de arma de fogo, e tráfico e associação ao tráfico de drogas.
“O estabelecimento não tem autorização para fazer abate de cavalos e nem forma de acondicionamento. A pena é de dois a cinco anos por organização criminosa, apuração de fatos envolvendo receptação e disparo de arma de fogo. Os próximos passos da operação é identificar as pessoas que vendiam esses produtos, cavalos, mulas e bois, e verificar quais estabelecimentos compravam”, detalha o delegado.